quinta-feira, julho 15, 2004

o_nada_(esperança)

O Nada (esperança)

Um homem baba entrando pela casa.
Gritamos e nosso grito são tiros,
metal cortando carne, tornando as almas
escuras como um abismo sem fim.
Quem cai também somos nós.
A História perdeu a poesia,
David Gilmour virou ditador,
o vento de mudança
há tempos não sopra mais.
Imagine um homem num canto triste,
sobretudo e chapéu o escondem nas sombras;
de súbito o elefante aparece
no meio da sala, do mundo,
no meio de mim,
e me explode, sacode, dizima,
me deixa aqui
sozinho, amuado, medroso,
me deixa aqui sem nada,
caminhando na chuva, no sol,
sem sonhar, sem romantismo.

Jogo fora os livros
consolando-me com harmonias
da harpa de Davi.
Jogo lanças, lanço chamas,
estou eu no canto triste,
mas não gosto de elefantes.

Respiro fundo a chuva ácida,
cuspo borboletas e paz.
Não mudo o mundo nem ninguém,
[não] deixo o mundo me mudar.
Sinto a dor da sinfonia,
explodo a bomba alegórica,
pulo no conta-gotas,
beijo os amigos com mil cores,
alegro-me e vou embora.
Tudo está estragado.
Levanto, ando pela estrada,
terracota sob meus pés.
Não sei onde vou,
só caminho sem prostrar,
sem me render.